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Sobre Tratados de Versificação.

julho 17, 2009

 

Devemos ajustar a nossa percepção ao que seja um tratado, antes de discutir de forma arbitrária o que hoje se define poesia.
A definição que melhor se aplica ao substantivo é: ajuste, convênio, contrato e trato.

Tomando como ponto de partida a tradição oral, das narrativas e suas modalidades mais remotas, constataremos que a arte poética teve a sua fundamentação acadêmica definida posteriormente, quando há muito já estava disseminada nas mais diversas culturas.

Logo, é possível concluir que os tratados visavam uniformizar as variações de expressão poética em todas as suas modalidades. Um exemplo claro disto é a variedade dos sonetos, a consagração de suas duas formas mais praticadas, e a evolução observada ainda hoje.

Um tratado, considerando as práticas acadêmicas, é somente um estudo das praticas consagradas apresentadas de forma didática com suas definições e variáveis; é pertinente para determinados campos de conhecimento, porém perde seus efeitos práticos quando confrontados com a dinâmica da expressão artística.

A prática de preceitos nos campos da criatividade resultou em experimentações limitadas que logo cederam espaço a liberdade radical obtida mediante confronto.

Quando o corpo acadêmico e a comunidade artística tomam tal estudo como bula determinando que todas as expressões devam subordinar-se a esta forma, instala-se o anacronismo que irá gestar a antítese que negará tal estado de coisas e proporá a sua superação, é a tão famosa dialética.

A linguagem é um dos patrimônios culturais mais significativos das sociedades, não é privilégio de uma classe; rebela-se a despeito do arbítrio.

“Flor do Lácio, sambódromo”…

As escolas, e ai cabem todas, fundam-se mortas; são alegorias de expressão de determinado espaço-tempo, uma moda, que serve a um propósito e depois encontra a decrepitude no próprio protagonismo (o envelhecimento da novidade).

O modernismo como tudo que ele critica e ampara está superado, mas foi pertinente quando da sua fundação, trouxe frescor, debate e polêmica; que é a arena do intelectual.
Quanto a situar a vanguarda européia com um preconceito nacionalista, acho que isto se deva a um desconforto com a falta de uma literatura rigorosamente nacional, tupi-guarani, talvez.

Machado de Assis perfuma-se de Sheakspeare, uma influencia legítima e em nada desmerece o seu legado. Literatura é fogo cruzado, todos influenciam a todos num diálogo tortuoso, a originalidade é o risco que cada autor assume diante da cena cultural comum.

Um cânone pode ser um pedestal, quem sabe um tratado para seus pares e seu tempo; caberá aos que chegam superá-los. As formas clássicas são exercícios para expandir capacidades e capturar os efeitos conseguidos por determinados artistas.

Praticá-los a exaustão como única forma de expressão de uma arte, é condená-la a estagnação. Caso a poesia seja feita desta forma, logo literatura será a exumação de uma arte que ninguém desloca, toca ou influencia. O rigor de um tratado de um século qualquer, representa uma proposta, não cabe como verdade.

Uma arte também inclui no seu percurso os percalços, são os equívocos que conduzem à superação num fluxo de tentativa e erro, que é prática comum em toda arte.

Dudu Oliveira